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domingo, 24 de abril de 2011

Uma homenagem a este grande escritor - Manuel Bandeira

"...o sol tão claro lá fora,
o sol tão claro, Esmeralda,
e em minhalma — anoitecendo."
Em 1886 nascia o precursor da poesia moderna, Manuel Bandeira (1886-1968)
Os vizinhos de Manuel Bandeira na rua do Curvelo, em Santa Tereza, região central do Rio de Janeiro, já sabiam: se o poeta pegasse o bonde com um ar de chateação, mais tarde, à noite, o barulho da máquina de escrever não deixaria ninguém dormir. A expressão do rosto denunciava seu destino: o hospital, para mais uma bateria de exames do pulmão. Chegava em casa deprimido e os momentos de tristeza eram os mais produtivos, rendiam páginas e páginas de poemas.
Em 1904, aos 18 anos (nasceu a 19 de abril de 1886, no Recife), Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho foi passar férias em Itaipava, região serrana fluminense, e sentiu-se indisposto depois de um passeio a cavalo. Acordou no meio da noite com o lençol sujo de sangue: estava com tuberculose, doença fatal no início do século. Para cuidar da saúde, desistiu do curso de Arquitetura da Escola Politécnica de São Paulo, no qual estava matriculado. Até o fim da vida foi assim: amargurado, era obrigado a renunciar a quase tudo devido à frágil saúde. Levou uma vida reclusa e se dedicou exclusivamente a escrever poesias, crônicas e fazer traduções.
Foi o "São João Batista do modernismo brasileiro", como o amigo Mário de Andrade gostava de chamá-lo. Muito antes da Semana de Arte Moderna, em 1922, Bandeira já tinha feito uso do verso livre em seus primeiros livros, A cinza das horas, de 1917, e Carnaval, de 1919. Os modernistas viram nele um precursor do movimento, mas ele se recusou a comparecer à Semana para não atacar os "velhos mestres parnasianos". Participou com a poesia Os sapos, que foi vaiada, assim como todos os outros eventos da programação.
A solidão, o sofrimento e o medo da morte foram a fonte de inspiração de onde saíram poemas como Pneumotórax, de 1930: E então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?/Não. A única coisa a fazer é dançar um tango argentino. Mas a dor não era o único motivo para escrever. Da janela de casa, passava horas observando os moleques brincarem na rua, os casais de namorados e tudo o que fazia parte do cotidiano de Santa Tereza para depois transformar em crônicas.
Escrevia sem compromissos e não modificava nada, deixava a inspiração fazer o que quisesse. Porém, ninguém acreditou quando contou que Vou-me embora para Pasárgada, um de seus mais belos poemas, nunca fora reconstruído. A primeira vez que ouviu a palavra Pasárgada ainda era criança e a única coisa que lembrava era o significado: "tesouro dos persas". Mais de 20 anos depois, num momento de profunda tristeza, a poesia lhe veio inteirinha na mente. Quando pegou o lápis para escrevê-la, era tarde. Tinha esquecido tudo. Só alguns anos mais tarde, deprimido novamente, os versos voltaram. "Saiu sem esforço, como se estivesse pronta dentro de mim."
Como se não bastassem os incômodos causados pela tuberculose, Bandeira perdeu o pai, a mãe, a irmã e o irmão num intervalo de seis anos, quando ainda era jovem. Embora tivesse todos os motivos para ser um sujeito mal-humorado, tinha sempre um sorriso simpático estampado no rosto. Era míope e dentuço, mas ria dos próprios defeitos e dizia que adorava "ser fotografado, traduzido, musicado..." Tinha mania de limpeza e, por azar, o único telefone da rua do Curvelo era o seu, que ele emprestava diariamente para os vizinhos. Depois tinha prazer em limpar e desinfetar cuidadosamente o aparelho. Embora fosse um eterno apaixonado pelas mulheres, nunca se casou porque "perdeu a vez", como costumava dizer, mas tinha uma imensidão de amigos que viviam lhe visitando.
Jamais assumiu nenhum compromisso, acreditando que morreria no dia seguinte. A única vez que recebeu pagamento adiantado por uma obra foi para escrever Guia de Ouro Preto, fruto da viagem que fez com Mário de Andrade e outros modernistas pelo interior do Brasil. No fim da vida, acordava às 7 e meia em ponto e dormia exatamente à meia-noite, depois de passar o dia inteiro na máquina de escrever. Morreu em 1968, aos 82 anos, de parada cardíaca, e não de tuberculose, como sempre acreditou. (irônico)
Obra-prima
• A cinza das horas (1917)
• Carnaval (1919)
• Poesias (1924)
• Libertinagem (1930)
• Estrela da manhã (1936)
• Estrela da vida inteira (1966)

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